6°|20/04/2012, sexta-feira @ Wanee
A manhã foi bem parecida, tanto no clima, quanto nas
atividades. Mas como hoje era dia da porquinha ir pra brasa resolvemos dar uma
arrumada na estrutura do acamps, afinal, podia chover e queríamos estar
preparados pra isso. Colocamos lona, esticamos redes, juntamos estiropores,
profissionalismo.
Gabi na rede, e eu de olho na porca |
Que prazer inenarrável fazer uma costelinha de porca em
pleno Wanee no dia que assistiria o Allman. Fernando começou a parada e foi dar
uma banda com a Lida, me deixando no cargo. Que felicidade. Sou um cara
simples, e o fato de estar lá assando aquela porquinha me rendeu um sorriso
muito grande e uma satisfação enorme.
Preparo era diferente, mas a adaptação foi imediata |
Bom, só pela imagem não preciso dizer que ficou muito, mas
muito bom.
Terminada a refeição fomos em direção ao Peach Stage (palco
principal) que às 13:30 começava o show do Buddy Guy. Essa hora tu deve estar
pensando: porra, comeram uma costelinha de porca no acamps e agora tão indo ver
o Buddy Guy? É meu amigo, it’s getting better all the time.
Os shows no Peach Stage começaram às 11h com o Bobby Lee
Rodgers, que já havíamos visto, e em seguida Bruce Hornsby, que iríamos
assistir em New Orleans. Ou seja, a preparação mesmo era pro véio.
É bom explicar um pouco do Peach Stage. Ele é completamente diferente do Mushroom. É um campão gigante, deve ter capacidade pra umas 60 mil pessoas, quando completamente lotado. É um baita palco que o fundo são as árvores do lugar, apenas o Allman usa telão. E lá grande parte do público leva cadeiras. Chegam cedo, postam suas cadeiras e lá ficam. Saem, vão no banheiro, comem um esquema, e o lugar está sempre garantido. As cadeiras vão quase até a linha da mesa de som. E o espaço perto que sobra são alguns corredores onde passam os fios do palco pra mesa. Muita sabedoria, mas pra quem não tinha cadeira, que era o nosso caso, era uma merda. Mas como tudo nessa vida é aprendizado, na próxima vez levaremos as nossas. E o fato de ser campo é bom por poder ficar de pé descalço ou deitado que não dá nada, na real é quase lei.
Peach Stage de longe |
O sol tava de rachar e conseguimos ficar num ponto
relativamente perto do palco, num dos corredores de fios.
Sobre o show... o cara é muito carismático, não para de
sorrir um segundo, e sempre que pode faz alguma piada. No início, no meio ou no
final das músicas. Sempre chamando o público e tirando onda quando não era
correspondido.
Pouca gente canta blues e faz a guitarra chorar como ele.
Tocou um clássico atrás do outro, com uma energia que coloca qualquer guri no
bolso. Desceu no meio do povo com a guitarra e não parou de solar, com a banda
acompanhando. Foi até a área VIP que tinha uma sombrinha (experiência fala por
si), parou no meio da mulherada, tirou uma onda, e voltou pro palco.
Fantástico.
Depois descobri uma coisa, que na realidade nunca tinha
parado pra pensar. O Buddy Guy tem 75 anos de idade. Ele tocou a última música
que ele fez, o nome da música é “74 Years Young”, que ele compôs ano passado.
Sonzeira. Show mais do que perfeito pra abrir os trabalhos musicais de um dia
que prometia muito.
E aqui tem o set list do show dele.
Buddy Guy fazendo a pequena chorar |
Ficamos no mesmo lugar, derretendo, no aguardo da Tedeschi
Trucks Band, banda da Susan Tedeschi e do Derek Trucks (mulher e marido), que é
um dos guitarristas do Allman Brothers, que na minha humilde opinião é o
guitarrista mais foda dos últimos tempos. Outro Allman na banda é o baixista
Oteil Burbrigde. Tive a oportunidade de assistir o show deles em 2011 no SWU, e
definitivamente foi um dos melhores shows do festival.
A banda é nova, os dois já tinham carreiras solo consolidadas,
e em 2011 juntaram as forças, montaram a banda e gravação um baita disco, o
Revelator, que inclusive ganhou o grammy de melhor álbum de blues, superando os
solos do Gregg Allman e do Warren Haynes. A banda consiste em 2 bateras, trio
de metais, dois backing vocals (um deles é o Mike Mattison, vocal da carreira
solo do Derek), tecladista (Kofi Burbrigde, primo do Oteil), baixista (Oteil) e
os dois (Susan e Derek) nas guitarras e ela no vocal.
Pelas 15:15 começou o show. A banda é demais, os
instrumentistas são uns monstros e ela canta muito. Confesso que o show do
Brasil eu achei mais legal, mais pegado. O set list do Wanee foi bem mais leve,
muitas músicas lentas em sequência. Não rolou aquele clima de ficar dançando
igual o boneco do posto. Mas mesmo assim foi demais, as jams que eles fazem são
incríveis. Parece que quando o Trucks tá tocando ele faz com que todo mundo que
esteja tocando com ele toque melhor.
É sempre bom assistir um show que tu não sabe as músicas que
vão rolar. Não é aquele set list estático igual em todos shows. Isso já deixa o
show melhor. E foi assim que funcionou.
O que achei simplesmente fantástico, e que realmente não
esperava, foram duas músicas que o Mike Mattison cantou da Derek Trucks Band.
“I know” e “Down Don’t Bother Me” foram executas em momentos distintos do show,
não uma atrás da outra. As duas são do álbum “Already Free” que aconselho muito
a comprar, ou baixar.
Aqui o set list do show.
Tedeschi Trucks Band |
Acabado o show fomos comprar chapéus. O sol tava de renguear
cusco.
Em seguida retornamos ao Peach Stage pra ver o show do
Furthur. Furthur é a banda do Bob Weir e do Phil Lesh, guitarrista e baixista
do Grateful Dead. Não sou um grande apreciador de Grateful Dead, mas tava muito
curioso pra ver o show. Quando começamos a andar pelo Wanee nos primeiros dias
notamos que não é uma simples banda, é algo muito maior. Os caras são uma
entidade, um modo de vida. Acho que eles tem tantos produtos quanto o KISS,
Jerry Garcia (vocalista do Dead que morreu em 1995) coloca John Lennon no
chinelo, enfim, é um esquema grandioso.
Tentei entender um pouco disso, e o que eu entendi após ter
trocado uma ideia com um dos vendedores foi o seguinte: nos anos 60 o Grateful
Dead não parava de excursionar, de tomar ácido e de tocar (foram eles que
começaram com essa pilha de ficar fazendo jam durante 30 minutos). Saiam de San
Francisco e viajavam os Estados Unidos num ônibus colorido (o Furthur). Os fãs
eram hippies que gostavam de ver o mundo de um jeito colorido e seguiam eles
nos seus próprios microbus. Onde eles iam tocar os caras (fãs) estacionavam
seus veículos em frente do local e vendiam os produtos que eles mesmo faziam da
banda. E o Wanee era um grande estacionamento dessa galera gente fina. Posso
ter entendido errado, mas acho que era isso mesmo. Fazia todo sentido.
Quando começou o show parecia que o som tava baixo, mas foi
melhorando. Achamos um lugar na sombra e lá ficamos. A previsão do show era de
3 horas. Das 17:30 às 20:30. A gente ficou lá por umas 4 músicas. Realmente não
faz meu tipo de som. Mas era bacana ver o pessoal dançando de olhos fechados.
Uma coisa muito legal do Wanee é quanto mais louca a pessoa parecia, mais as pessoas gostavam dela. Então tu vê muita gente dançando de um jeito muito maluco, bem pior que festa de casamento, e as pessoas não olham atravessado, ao contrário, olhavam com um olhar de admiração. Cada um faz o que passar na cabeça e não tá nem aí. Lindo.
Furthur |
A gente saiu de lá e deu uma passada no Mushroom Stage e
assistimos um pedacinho do show do Bonerama. Não ficamos muito porque iríamos
assistir o show deles em New Orleans. É bem massa, mas depois vou escrever
sobre eles.
Bonerama |
Apesar de ter comido não fazia muito tempo, fomos comer um
café da tarde porque a pilha era assistir o show do Ivan Neville’s Dumpstaphunk
e depois do Allman Brothers sem ter que parar pra comer.
Algumas pessoas nos falaram de um sanduiche muito bom que tinha lá e a gente resolveu provar. Era o Ham Sandwich Al Funghi. O preparo era extremamente simples, mas o gosto era fantástico, de deixar o vivente com as pernas bambas.
Partimos pro Mushroom Stage pra curtir o show do Ivan
Neville’s Dumpstaphunk (Ai- van Né-vil Damps-ta-fank). Que loucura. Já tava
ficando escuro e o lugar estava muito maluco. Era bambolê que brilha do escuro
pra tudo que era lado, muita gente de chapéu doidão, enfim...
O Ivan Neville toca teclado, e foi da banda solo do Keith
Richards por um bom tempo. Já conhecia o trabalho da banda de uns discos
baixados por aqui. Sabia que a coisa era boa, mas não tanto. Eles fizeram um
especial Funkadelic, com as roupas que eles usavam nos anos 70 e o repertório
inteiro dos caras. Nunca vi tamanha funkeira.
A banda é batera, teclado, trio de metais, baixo, guitarra e
um coringa. Ele toca um pouco de guitarra e muito baixo. Ou seja, a maior parte
do show os caras contam com dois baixistas. Banda dos sonhos. E assim... os
caras tocam demais. Em vários momentos aproveitam o fato de ter dois baixos e
um deles fica usando algum efeito maluco. Apelidei o som do baixo
carinhosamente de “Brain Grinder”, a tradução livre “esmurrugador de miolos”.
Nunca tinha presenciado algo como aquilo.
Quase todo mundo canta na banda, o que deixa mais legal
ainda, o som fica muito cheio. Eles ocupam todo espaço possível, uma pedrada
sonora bem no meio da cara. Se todo mundo tava dançando de um jeito maluco no
show do Furthur, imagina no Dumpstaphunk tocando Funkadelic.
Essa foi a única foto que tiramos do show. hehehe |
Com certeza um dos momentos mais divertidos que já passei na
vida. E aqui tá o set do show.
Acabou o show, paramos um pouco, respiramos fundo (afinal o
impacto foi forte) e seguimos pro Peach Stage, onde ia começar o show do Allman
Brothers.
Um momento muito engraçado foi quando estávamos caminhando
em direção ao palco num bréu q não se via nada, no meio de uma multidão sentada
no chão, apareceram uns pés. Umas 5 pessoas estavam deitadas e com pés pra
cima, tipo olhando pros pés e o céu de fundo. Eles pareciam estar conversando
com os pés. E quando passamos por eles falamos: “Hello feet”. E nos responderam
mexendo os pés: “Hello”.
Mesmo com aquele monte de cadeira fomos pro meio e ficamos
perto do palco e centralizados. E ninguém reclamou. Muito saudável.
Tenho sorte de já ter visto 4 shows do Allman Brothers, ou
seja, fui pro Wanee porque os outros dois que eu havia visto foram as
experiências mais incríveis que tive em vida. O melhor do show do Allman é que
tu não faz ideia do que vai acontecer.
O show teve um pequeno atraso, mas quando começou...
Abriram com a dobradinha que inicia o primeiro disco “Don’t
Want You No More” e “It’s Is Not My Cross T Bear”. O show do Allman é o único
com telão gigante no fundo, e que telão. Fica só passando imagens malucas, tipo
como se tu estivesse dentro de um mãe da água bailarina. Em outros momentos são
cogumelinhos que começam a dançar em volta de um grande Cogu. Fantástico.
Pronto. Já tinha valido tudo.
Antes de começar a falar mais do show, quero comentar uma
coisa, só vou relatar o que eu vi por lá, porque explicar as sensações é algo
impossível. Já dizia isso antes, agora tenho duas testemunhas comigo. Só
estando lá pra sacar o que se passa, e mesmo assim nem tu entende direito o que
tá acontecendo.
Em seguida emendaram “Midnight Rider”. E era só o início.
Seguiu com “Blue Sky”. Como disse, nenhum show dos caras é previsível, sempre
mudam o repertório, afinal fazem de acordo com a pilha da noite. Mas “Blues Sky”
realmente eu não esperava. Ela foi escrita pelo Dickey Betts pra mulher dele em
1972, e visto que o cara saiu da banda muito brigado com todo resto e essa é
uma música bem pessoal, não era muito esperado. E foi demais ver o Warren
Haynes cantando.
“Worried Down With Blues” que é original do Gov’t Mule, mas
que seguidamente o Allman toca, continuou o show com o Warren nos vocais, e que
vocais. Acho que o cara não precisava de microfone. A voz ecoava em todo canto.
Nesse som se notava o desconforto do Gregg Allman. Em março ele abandonou um
show no meio, e não pôde comparecer em outro por conta de um problema nas
costas. E no meio dessa música ele saiu do palco. Confesso que rolou uma tensão
no momento. Foi ele sair que o Kofi Burbrigde (tecladista da Tedeschi Trucks
Band) assumiu o órgão do Gregg.
No intervalo desse som parecia que eles iam mudar o caminho
do show, afinal, não estava nos planos “perder” o Gregg. Então tocaram uma
instrumental que não tem em nenhum disco, e pelo q sei, eles vem tocando em
alguns shows, a “Egypt”.
Depois disso chamaram a Susan Tedeschi pra cantar “Stand
Back”, ainda com o Kofi no órgão.
Em homenagem ao Levon Helm, que havia falecido poucos dias
antes e era grande amigo da banda há anos, fizeram um bloco especial com 3
sons. Começaram com “It’s Makes No Difference”, com a participação de toda a
Tedeschi Trucks, menos os bateristas. Gregg Allman voltou e tocaram “Blind
Willie McTell” que é o Bob Dylan, mas que o The Band tocava direto, mais que o
próprio Dylan. E pra fechar o bloco Levon Helm tocaram “The Weight”, a música
mais famosa do The Band, que tá na trilha do “Easy Rider”. Nessa além de ter
novamente a participação dos vocais da Susan Tedeschi , dos backing vocals, e
do trio de metais da Tedeschi Trucks Band, eles chamaram o Bob Weir, do
Furthur. Momento realmente emocionante.
Levon Helm no telão |
O show seguiu com “Dreams”. O Gregg cantou a parte dele, e
saiu do palco de novo. E lá tava o Kofi para seguir no órgão. Então foi a hora
de “In Memory of Elisabeth Reed”, música instrumental, que normalmente vai
longe. E não foi diferente, e sempre uma viagem excelente.
Saíram do palco. Uns 5 minutos depois voltaram, e com o
Gregg. Tocaram “No One To Run With” para fechar. O show teve 14 músicas, vários
contratempos, quase duas horas e meia. Foi uma noite pra ser lembrada. Estar
naquele lugar, rodeado daquelas pessoas desconhecidas e dos melhores amigos e
ouvindo aquela música. Perfeito. E o melhor era saber que no outro dia tinha
mais.
Finaleira do show com Duane no telão |
Bom, depois disso nos restava só uma coisa: ir pro
acampamento tomar a saidera e capotar. Na passada ainda tava rolando um show no
Mushroom, mas era uma banda de música eletrônica, a Particle. Paramos só pra
ver o Mushroom Stage mesmo e toda sua magia, e seguimos.
Obs.: agradecimento especial pra Thais pelas fotos. Senão fosse ela esse blog não teria imagens.
:^)
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