terça-feira, 24 de julho de 2012

Porquinha e Allman Brothers


6°|20/04/2012, sexta-feira @ Wanee


A manhã foi bem parecida, tanto no clima, quanto nas atividades. Mas como hoje era dia da porquinha ir pra brasa resolvemos dar uma arrumada na estrutura do acamps, afinal, podia chover e queríamos estar preparados pra isso. Colocamos lona, esticamos redes, juntamos estiropores, profissionalismo.

Gabi na rede, e eu de olho na porca

Que prazer inenarrável fazer uma costelinha de porca em pleno Wanee no dia que assistiria o Allman. Fernando começou a parada e foi dar uma banda com a Lida, me deixando no cargo. Que felicidade. Sou um cara simples, e o fato de estar lá assando aquela porquinha me rendeu um sorriso muito grande e uma satisfação enorme.

Preparo era diferente, mas a adaptação foi imediata

Bom, só pela imagem não preciso dizer que ficou muito, mas muito bom.

Terminada a refeição fomos em direção ao Peach Stage (palco principal) que às 13:30 começava o show do Buddy Guy. Essa hora tu deve estar pensando: porra, comeram uma costelinha de porca no acamps e agora tão indo ver o Buddy Guy? É meu amigo, it’s getting better all the time.

Os shows no Peach Stage começaram às 11h com o Bobby Lee Rodgers, que já havíamos visto, e em seguida Bruce Hornsby, que iríamos assistir em New Orleans. Ou seja, a preparação mesmo era pro véio.

É bom explicar um pouco do Peach Stage. Ele é completamente diferente do Mushroom. É um campão gigante, deve ter capacidade pra umas 60 mil pessoas, quando completamente lotado. É um baita palco que o fundo são as árvores do lugar, apenas o Allman usa telão. E lá grande parte do público leva cadeiras. Chegam cedo, postam suas cadeiras e lá ficam. Saem, vão no banheiro, comem um esquema, e o lugar está sempre garantido. As cadeiras vão quase até a linha da mesa de som. E o espaço perto que sobra são alguns corredores onde passam os fios do palco pra mesa. Muita sabedoria, mas pra quem não tinha cadeira, que era o nosso caso, era uma merda. Mas como tudo nessa vida é aprendizado, na próxima vez levaremos as nossas. E o fato de ser campo é bom por poder ficar de pé descalço ou deitado que não dá nada, na real é quase lei.

Peach Stage de longe

O sol tava de rachar e conseguimos ficar num ponto relativamente perto do palco, num dos corredores de fios.

Sobre o show... o cara é muito carismático, não para de sorrir um segundo, e sempre que pode faz alguma piada. No início, no meio ou no final das músicas. Sempre chamando o público e tirando onda quando não era correspondido.

Pouca gente canta blues e faz a guitarra chorar como ele. Tocou um clássico atrás do outro, com uma energia que coloca qualquer guri no bolso. Desceu no meio do povo com a guitarra e não parou de solar, com a banda acompanhando. Foi até a área VIP que tinha uma sombrinha (experiência fala por si), parou no meio da mulherada, tirou uma onda, e voltou pro palco. Fantástico.

Depois descobri uma coisa, que na realidade nunca tinha parado pra pensar. O Buddy Guy tem 75 anos de idade. Ele tocou a última música que ele fez, o nome da música é “74 Years Young”, que ele compôs ano passado. Sonzeira. Show mais do que perfeito pra abrir os trabalhos musicais de um dia que prometia muito.

E aqui tem o set list do show dele.

Buddy Guy fazendo a pequena chorar

Ficamos no mesmo lugar, derretendo, no aguardo da Tedeschi Trucks Band, banda da Susan Tedeschi e do Derek Trucks (mulher e marido), que é um dos guitarristas do Allman Brothers, que na minha humilde opinião é o guitarrista mais foda dos últimos tempos. Outro Allman na banda é o baixista Oteil Burbrigde. Tive a oportunidade de assistir o show deles em 2011 no SWU, e definitivamente foi um dos melhores shows do festival.

A banda é nova, os dois já tinham carreiras solo consolidadas, e em 2011 juntaram as forças, montaram a banda e gravação um baita disco, o Revelator, que inclusive ganhou o grammy de melhor álbum de blues, superando os solos do Gregg Allman e do Warren Haynes. A banda consiste em 2 bateras, trio de metais, dois backing vocals (um deles é o Mike Mattison, vocal da carreira solo do Derek), tecladista (Kofi Burbrigde, primo do Oteil), baixista (Oteil) e os dois (Susan e Derek) nas guitarras e ela no vocal.

Pelas 15:15 começou o show. A banda é demais, os instrumentistas são uns monstros e ela canta muito. Confesso que o show do Brasil eu achei mais legal, mais pegado. O set list do Wanee foi bem mais leve, muitas músicas lentas em sequência. Não rolou aquele clima de ficar dançando igual o boneco do posto. Mas mesmo assim foi demais, as jams que eles fazem são incríveis. Parece que quando o Trucks tá tocando ele faz com que todo mundo que esteja tocando com ele toque melhor.

É sempre bom assistir um show que tu não sabe as músicas que vão rolar. Não é aquele set list estático igual em todos shows. Isso já deixa o show melhor. E foi assim que funcionou.

O que achei simplesmente fantástico, e que realmente não esperava, foram duas músicas que o Mike Mattison cantou da Derek Trucks Band. “I know” e “Down Don’t Bother Me” foram executas em momentos distintos do show, não uma atrás da outra. As duas são do álbum “Already Free” que aconselho muito a comprar, ou baixar.

Aqui o set list do show.

Tedeschi Trucks Band

Acabado o show fomos comprar chapéus. O sol tava de renguear cusco.

Em seguida retornamos ao Peach Stage pra ver o show do Furthur. Furthur é a banda do Bob Weir e do Phil Lesh, guitarrista e baixista do Grateful Dead. Não sou um grande apreciador de Grateful Dead, mas tava muito curioso pra ver o show. Quando começamos a andar pelo Wanee nos primeiros dias notamos que não é uma simples banda, é algo muito maior. Os caras são uma entidade, um modo de vida. Acho que eles tem tantos produtos quanto o KISS, Jerry Garcia (vocalista do Dead que morreu em 1995) coloca John Lennon no chinelo, enfim, é um esquema grandioso.

Tentei entender um pouco disso, e o que eu entendi após ter trocado uma ideia com um dos vendedores foi o seguinte: nos anos 60 o Grateful Dead não parava de excursionar, de tomar ácido e de tocar (foram eles que começaram com essa pilha de ficar fazendo jam durante 30 minutos). Saiam de San Francisco e viajavam os Estados Unidos num ônibus colorido (o Furthur). Os fãs eram hippies que gostavam de ver o mundo de um jeito colorido e seguiam eles nos seus próprios microbus. Onde eles iam tocar os caras (fãs) estacionavam seus veículos em frente do local e vendiam os produtos que eles mesmo faziam da banda. E o Wanee era um grande estacionamento dessa galera gente fina. Posso ter entendido errado, mas acho que era isso mesmo. Fazia todo sentido.

Quando começou o show parecia que o som tava baixo, mas foi melhorando. Achamos um lugar na sombra e lá ficamos. A previsão do show era de 3 horas. Das 17:30 às 20:30. A gente ficou lá por umas 4 músicas. Realmente não faz meu tipo de som. Mas era bacana ver o pessoal dançando de olhos fechados.

Uma coisa muito legal do Wanee é quanto mais louca a pessoa parecia, mais as pessoas gostavam dela. Então tu vê muita gente dançando de um jeito muito maluco, bem pior que festa de casamento, e as pessoas não olham atravessado, ao contrário, olhavam com um olhar de admiração. Cada um faz o que passar na cabeça e não tá nem aí. Lindo.

Furthur 

A gente saiu de lá e deu uma passada no Mushroom Stage e assistimos um pedacinho do show do Bonerama. Não ficamos muito porque iríamos assistir o show deles em New Orleans. É bem massa, mas depois vou escrever sobre eles.

Bonerama

Apesar de ter comido não fazia muito tempo, fomos comer um café da tarde porque a pilha era assistir o show do Ivan Neville’s Dumpstaphunk e depois do Allman Brothers sem ter que parar pra comer.

Algumas pessoas nos falaram de um sanduiche muito bom que tinha lá e a gente resolveu provar. Era o Ham Sandwich Al Funghi. O preparo era extremamente simples, mas o gosto era fantástico, de deixar o vivente com as pernas bambas.

Partimos pro Mushroom Stage pra curtir o show do Ivan Neville’s Dumpstaphunk (Ai- van Né-vil Damps-ta-fank). Que loucura. Já tava ficando escuro e o lugar estava muito maluco. Era bambolê que brilha do escuro pra tudo que era lado, muita gente de chapéu doidão, enfim...

O Ivan Neville toca teclado, e foi da banda solo do Keith Richards por um bom tempo. Já conhecia o trabalho da banda de uns discos baixados por aqui. Sabia que a coisa era boa, mas não tanto. Eles fizeram um especial Funkadelic, com as roupas que eles usavam nos anos 70 e o repertório inteiro dos caras. Nunca vi tamanha funkeira.

A banda é batera, teclado, trio de metais, baixo, guitarra e um coringa. Ele toca um pouco de guitarra e muito baixo. Ou seja, a maior parte do show os caras contam com dois baixistas. Banda dos sonhos. E assim... os caras tocam demais. Em vários momentos aproveitam o fato de ter dois baixos e um deles fica usando algum efeito maluco. Apelidei o som do baixo carinhosamente de “Brain Grinder”, a tradução livre “esmurrugador de miolos”. Nunca tinha presenciado algo como aquilo.

Quase todo mundo canta na banda, o que deixa mais legal ainda, o som fica muito cheio. Eles ocupam todo espaço possível, uma pedrada sonora bem no meio da cara. Se todo mundo tava dançando de um jeito maluco no show do Furthur, imagina no Dumpstaphunk tocando Funkadelic.

Essa foi a única foto que tiramos do show. hehehe

Com certeza um dos momentos mais divertidos que já passei na vida. E aqui tá o set do show.

Acabou o show, paramos um pouco, respiramos fundo (afinal o impacto foi forte) e seguimos pro Peach Stage, onde ia começar o show do Allman Brothers.

Um momento muito engraçado foi quando estávamos caminhando em direção ao palco num bréu q não se via nada, no meio de uma multidão sentada no chão, apareceram uns pés. Umas 5 pessoas estavam deitadas e com pés pra cima, tipo olhando pros pés e o céu de fundo. Eles pareciam estar conversando com os pés. E quando passamos por eles falamos: “Hello feet”. E nos responderam mexendo os pés: “Hello”.
Mesmo com aquele monte de cadeira fomos pro meio e ficamos perto do palco e centralizados. E ninguém reclamou. Muito saudável.

Tenho sorte de já ter visto 4 shows do Allman Brothers, ou seja, fui pro Wanee porque os outros dois que eu havia visto foram as experiências mais incríveis que tive em vida. O melhor do show do Allman é que tu não faz ideia do que vai acontecer.

O show teve um pequeno atraso, mas quando começou...

Abriram com a dobradinha que inicia o primeiro disco “Don’t Want You No More” e “It’s Is Not My Cross T Bear”. O show do Allman é o único com telão gigante no fundo, e que telão. Fica só passando imagens malucas, tipo como se tu estivesse dentro de um mãe da água bailarina. Em outros momentos são cogumelinhos que começam a dançar em volta de um grande Cogu. Fantástico. Pronto. Já tinha valido tudo.

Antes de começar a falar mais do show, quero comentar uma coisa, só vou relatar o que eu vi por lá, porque explicar as sensações é algo impossível. Já dizia isso antes, agora tenho duas testemunhas comigo. Só estando lá pra sacar o que se passa, e mesmo assim nem tu entende direito o que tá acontecendo.

Em seguida emendaram “Midnight Rider”. E era só o início. Seguiu com “Blue Sky”. Como disse, nenhum show dos caras é previsível, sempre mudam o repertório, afinal fazem de acordo com a pilha da noite. Mas “Blues Sky” realmente eu não esperava. Ela foi escrita pelo Dickey Betts pra mulher dele em 1972, e visto que o cara saiu da banda muito brigado com todo resto e essa é uma música bem pessoal, não era muito esperado. E foi demais ver o Warren Haynes cantando.

“Worried Down With Blues” que é original do Gov’t Mule, mas que seguidamente o Allman toca, continuou o show com o Warren nos vocais, e que vocais. Acho que o cara não precisava de microfone. A voz ecoava em todo canto. Nesse som se notava o desconforto do Gregg Allman. Em março ele abandonou um show no meio, e não pôde comparecer em outro por conta de um problema nas costas. E no meio dessa música ele saiu do palco. Confesso que rolou uma tensão no momento. Foi ele sair que o Kofi Burbrigde (tecladista da Tedeschi Trucks Band) assumiu o órgão do Gregg.

No intervalo desse som parecia que eles iam mudar o caminho do show, afinal, não estava nos planos “perder” o Gregg. Então tocaram uma instrumental que não tem em nenhum disco, e pelo q sei, eles vem tocando em alguns shows, a “Egypt”.

Depois disso chamaram a Susan Tedeschi pra cantar “Stand Back”, ainda com o Kofi no órgão.

Em homenagem ao Levon Helm, que havia falecido poucos dias antes e era grande amigo da banda há anos, fizeram um bloco especial com 3 sons. Começaram com “It’s Makes No Difference”, com a participação de toda a Tedeschi Trucks, menos os bateristas. Gregg Allman voltou e tocaram “Blind Willie McTell” que é o Bob Dylan, mas que o The Band tocava direto, mais que o próprio Dylan. E pra fechar o bloco Levon Helm tocaram “The Weight”, a música mais famosa do The Band, que tá na trilha do “Easy Rider”. Nessa além de ter novamente a participação dos vocais da Susan Tedeschi , dos backing vocals, e do trio de metais da Tedeschi Trucks Band, eles chamaram o Bob Weir, do Furthur. Momento realmente emocionante.

Levon Helm no telão

O show seguiu com “Dreams”. O Gregg cantou a parte dele, e saiu do palco de novo. E lá tava o Kofi para seguir no órgão. Então foi a hora de “In Memory of Elisabeth Reed”, música instrumental, que normalmente vai longe. E não foi diferente, e sempre uma viagem excelente.

Saíram do palco. Uns 5 minutos depois voltaram, e com o Gregg. Tocaram “No One To Run With” para fechar. O show teve 14 músicas, vários contratempos, quase duas horas e meia. Foi uma noite pra ser lembrada. Estar naquele lugar, rodeado daquelas pessoas desconhecidas e dos melhores amigos e ouvindo aquela música. Perfeito. E o melhor era saber que no outro dia tinha mais.

Finaleira do show com Duane no telão
E aqui o set do show.

Bom, depois disso nos restava só uma coisa: ir pro acampamento tomar a saidera e capotar. Na passada ainda tava rolando um show no Mushroom, mas era uma banda de música eletrônica, a Particle. Paramos só pra ver o Mushroom Stage mesmo e toda sua magia, e seguimos.


Obs.: agradecimento especial pra Thais pelas fotos. Senão fosse ela esse blog não teria imagens.

:^)

Nenhum comentário:

Postar um comentário